LACTAÇÃO: É POSSÍVEL AMAMENTAR SEM TER PASSADO POR UMA GESTAÇÃO

LACTAÇÃO: É POSSÍVEL AMAMENTAR SEM TER PASSADO POR UMA GESTAÇÃO



Após uma dúvida colocada por uma grávida decidi pesquisar e falar sobre este tema... nesta semana comemorativa.

Neste tema, tão pouco abordado...decidi investigar para melhor ajudar, informar, para melhor dar o meu contributo....


Faço então um pequeno resumo do que fui lendo...


Primeiro, antes de tudo, este processo deve ser sempre seguido, aconselhado e prescrito pela (o) Médica Obstetra/Ginecologista. 


Segundo a literatura, o protocolo inteiro é o que tem melhores resultados, mas contudo, e como tudo, tem contraindicações.


Os protocolos de Indução de produção de leite, após avaliação clínica e decisão em casal podem abranger, todos ou alguns destes “passos”:

  • Medicamentos Fitoterápicos (medicamento obtido utilizando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais)
  • Galactagogos (tem como efeito secundário a produção de prolactina- hormona responsável pela produção de leite)
  • Estimulação mecânica (Bomba Extratora)

Realizar RELACTAÇÃO, após o nascimento, através de uma sonda colocada na mama de forma a o bebé abocanhar a mama, fazer sucção e ser nutrido, estimulando assim a produção de leite. Essa sonda poderá ter leite materno ou leite artificial.

No caso de duas mães, se uma das mãe tiver leite, poderá extrair e ser esse o leite colocado na sonda, mantendo assim aleitamento materno exclusivo.

O protocolo/tratamento deve começar seis meses antes do nascimento do bebé.

Existem efeitos secundários, nos protocolos, por isso a importância do seguimento e vigilância por um médico obstetra/ginecologista.


Efeitos secundários:

  • Irritabilidade, 
  • Dor de cabeça, 
  • Problemas gástricos, 
  • Cansaço da extração do leite. 


* O ideal é estimular a produção a cada três horas, antes do nascimento do bebé, inclusive de madrugada. Podendo tornar-se,  assim,  um trabalho árduo e cansativo.



Galactagogos

Os galactagogos são medicamentos que estimulam a lactação, aumentando os níveis de prolactina (hormona responsável pela produção de leite). 

Qualquer medicação deve ser receitada por um médico obstetra ou pediatra, pois é importante lembrar que qualquer medicação pode desencadear efeitos secundários.

A compreensão dos efeitos terapêuticos destas substâncias e a deci­são de utilizá-las ou não deve estar baseada no conhecimento do funcionamento dos processos envolvidos na secreção e ejeção do leite. 

Os medicamentos citados em estudos, e por consequência mais utilizados, são: metoclopramida, domperidona e sulpirida.1,2,3

  • metoclopramida (antiemético; estimulante da motilidade gastrintestinal superior; pró-cinético [benzamida; antagonista dos receptores da dopamina]- normalmente utilizado para náuseas; refluxo gastro-esofágico; vómitos. O seu efeito galactagogo foi descrito pela primeira vez em 1975, sendo o primeiro estudo realizado para comprovação deste efeito em 1979. Dos os fármacos com propriedades galacta­gogas, a metoclopramida é o mais estudado. Con­tudo, a maioria dos estudos não foi baseada nos princípios modernos da medicina baseada em evi­dência. A metoclopramida, substância mais citada nos registros, pode causar efeitos extrapiramidais como tremores, bradicinesia e reações distónicas 4,5,10
  • domperidona normalmente receitada para vómitos, enjoos e azia. Em mulheres não grávidas, o aumento da prolactina sérica com uso de dompe­ridona é menor que o efeito da metoclopramida na mesma dose. Na avaliação da eficácia galactagoga da dom­peridona, apenas uma publicação foi considerada metodologicamente adequada. A domperidona, por apresentar menor lipossolubilidade e maior peso molecular que a metoclopramida, tornando-se menos permeável à barreira hematoencefálica, oferecendo menor risco de reações extrapiramidais. 5,6,1
  • sulpirida é um antagonista dopaminérgico usa­do como antidepressivo e antipsicótico. Atua sobre receptores D2, D3 e D4 promovendo aumento dos níveis de prolactina sérica semelhante aos demais galactagogos. Uma revisão que analisou os estudos realiza­dos para testar o efeito galactagogo da sulpirida encontrou falhas como perda elevada da amostra, falta de registro sobre volume dos suplementos ali­mentares utilizados e ausência de in­formação acerca das técnicas de manejo da lacta­ção. É excretada no leite em quantidades significativas com possíveis sintomas adversos sobre a criança bem como efeitos extrapiramidais na mãe. 7,10

      

O estímulo da sucção do bebé é suficiente para iniciar a lactação

A sucção do bebé, desde que feita de forma efetiva e com a pega correta, é capaz de estimular a produção de leite. 

Quando o bebé abocanha a região areolar, ele inicia os movimentos de sucção, que estimulam a liberação dos hormonas ocitocina e prolactina. 

A prolactina entrará em ação para produzir e repor o leite que está sendo retirado. Inclusive a sucção do bebé é suficiente não só para iniciar, mas também, para aumentar a produção de leite conforme ele cresce. 

A ocitocina é responsável pela ejeção do leite, ou seja, conforme o bebé mama, sua força de sucção aliada à ação da ocitocina que “empurra” o leite para fora promove o esvaziamento da mama. 


Algumas pessoas podem não conseguir produzir leite suficiente para nutrir o bebé
Todas as mulheres podem produzir leite, podem é, não produzir leite suficiente para alimentar um bebé. 

A literatura mostra que a maior parte das mulheres não vai conseguir alimentar exclusivamente os bebés com esse leite produzido via indução da lactação. 


A diferença do leite produzido por mães que não estiveram grávidas...

Os estudos sobre esse assunto são escassos,  mas mostram que o leite induzido não é igual ao colostro (primeiro leite que a mãe produz, rico em defesas). A produção de colostro depende da saída da placenta e nestes casos não existe saída da placenta.

Mesmo assim o leite da indução é muito comparável ao leite produzido após algum tempo de amamentação (leite maduro). 

Por isso, é um leite maravilhoso, com todos os benefícios que o bebé precisa! 

Peritos na área recomendam que nos primeiros dias de vida do bebé, no caso de um bebé com duas mães, ele seja amamentado pela mãe que passou pelo processo de gravidez (gestação) por causa do colostro, que é muito importante pro recém-nascido. Mas depois desse início, as duas podem amamentar.


A continuação do protocolo/tratamento
As recomendações são que se continue com algumas medicações por um período e, inclusive, a estimulação por bomba, mesmo quando o bebé já estiver a mamar. Às vezes, o corpo demora um pouquinho mais do que se espera, para entender quem é aquele bebé e o quanto ele mama. Por vezes pode haver a necessidade de fazer complemento no início e ir tirando aos poucos. Mas depois de um algum tempo, poder-se-á tirar todas as medicações.

Já no caso de duas mães, por exemplo, podemos ter uma que não é estimulada na totalidade. Pois, o que faz a mulher manter sua produção é a quantidade de leite que o bebé mama. Então, quando temos 4 mamas para um bebé, pode ser que a produção de leite fique comprometida e até interferir no peso do bebé. Por isso, nesse caso, é importante ter um bom acompanhamento.



Cabe Salientar

  • A estimulação mecânica do complexo areolomamilar pela suc­ção do bebé e a ordenha do leite são os estí­mulos mais importantes à indução e manutenção da lactação. Tais estímulos promovem a secreção de prolactina pela hipófise anterior e de ocitocina pela hipófise posterior. 
      • Não há comprovação da correlação direta entre níveis de prolactina sérica e maior período de aleitamento em mulheres em uso de galactagogos. 
      • Também não é relatada evidência robusta da eficácia destes medicamentos.  
      • Temos que considerar ainda que não existem trabalhos que comprovem  que  os galactagogos farmacológicos estimulem a produção láctea em mulheres com níveis elevados de prolactina ou com tecido mamário inadequado à lactação. 
      • A segurança dos antagonistas dopaminérgicos não foi adequadamente estudada quando utilizados como galactagogos, mas todos têm risco potencial para as mães e para os bebés. 
      • Estas substâncias têm uma ação limitada no aumento da lactação e não está esclarecida por evidências sua segurança para o bebé.  
      • Mães devem procurar usar medidas não farmacológicas para aumentar o volume de leite, como técnica adequada de amamentação,  massagem nas mamas, aumento da frequência da amamentação e maximizar o apoio emocional.
      • Evidências sugerem que com assistência nas técnicas de aleitamento, pelo menos 97% das mulheres conseguem amamentar os seus filhos com sucesso. 8,9,11
      • Desta forma, alguns estudos não recomendam o uso rotineiro de galactagogos, porque há evidências limitadas para sustentar a sua eficácia e também devido à preocupação de efeitos secundários potenciais para o recém nascido. 


      O SEGUIMENTO PELO SEU MÉDICO OBSTETRA/GINECOLOGISTA E APÓS O NASCIMENTO PELO PEDIATRA SÃO DE EXTREMA IMPORTÂNCIA PARA O SUCESSO DA INDUÇÃO DE PRODUÇÃO DE LEITE E DA AMAMENTAÇÃO EM GERAL!


      Este artigo é meramente informativo, qualquer decisão e/ou ação deve ser realizada de forma informada, livre e esclarecida e com apoio clínico. 


      Os galactagogos sozinhos não fazem nada! É preciso uma boa técnica de amamentação, estimulação mecânica com bomba e o mais importante, que o corpo responda!









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      Referências Bibliográficas

      1- Ramos e Almeida. Alegações maternas para o desmame. J Pediatr (Rio J) 2013; 79:385-90

      2- Daly SE, Hartmann PE. Infant demand and supply. Part 1: Infant demand and milk production in lactating women. J Hum Lact 1995; 11:21-6

      3- The Academy of Breastfeeding Medicine. Use of galactogogues in initiating or augmenting maternal milk supply. New York: The Academy of Breastfeeding Medicine, Inc; 2004

      4- Brotto LDA, Marinho NDB, Miranda IP et al. Fundam. care. online 2015. jan./mar. 7(1):2169-2180 2174 Uso de galactagogos no manejo da amamentação

      5- Uso de galactagogos no manejo da amamentação: revisão integrativa da literatura J. res. fundam. care. online 2015. jan./mar. 7(1):2169-2180

      6- Ichisato SMT, Shimo AKK. Aleitamento materno e as crenças alimentares. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2001;9(5):70-76.

      7- The Academy of Breastfeeding Medicine Protocol Committee (ABMPC). ABM Protocol. Breastfeeding medicine. 2011; [cited 2012 Set08]6(1):41-6

      8-Philip Anderson and Veronica Valdes- Breastfeeding Medicine Volume 2, Number 4, 2007 © Mary Ann Liebert, Inc. DOI: 10.1089/bfm.2007.0013 Critical Review of Pharmaceutical Galactagogues

      9- Chaves RG, Lamounier JA, Santiago LB, Vieira GO. Uso de galactagogos na prática clínica para o manejo do aleitamento materno. Rev Med Minas Gerais. 2008; [cited 2012 Set 08] 18(4) Suppl 1:146-53. 

      10- Zuppa AA, Sindico P, Orchi C, Carducci C, Cardiello V, Romagnoli C et al. Safety and efficacy of galactogogues: substances that induce, maintain and increase breast milk production. J Pharm Pharmaceut Sci. 2010; [cited 2012 Set 08] 13(2):162-74

      11- UpToDate- Common problems of breastfeeding and weaning-Literature review current through: Oct 2017. | This topic last updated: Oct 17, 2017.

      12- https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/307-galactagogos-sao-eficientes-quando-indicar

      13- https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Amamentacao/noticia/2019/09/lactacao-como-e-possivel-amamentar-sem-ter-ficado-gravida.html

      14- https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/maternidade/noticia/2019/08/como-e-possivel-induzir-a-producao-de-leite-em-mulheres-nao-gravidas-cjz1p8ef8008601pa2u5pr0n4.html

      15- https://claudia.abril.com.br/sua-vida/gestacao-amamentar-filha-adotiva/

      Máquinas extratoras e acessórios que aconselho:





      Sonda para Relactação (Exemplo)